terça-feira, 29 de novembro de 2011

Fotos do Lançamento Coletivo Livraria Leitura

                          Os autores Márcia Simões, Lucas Valadares, Átila Siqueira, Newton Emediato Filho, Clevane Pessoa e Antônio Rodrigues de Souza                                    
       
                                        Iara Abreu e Newton Emediato Filho


                                                           Newton Emediato Filho e Clevane Pessoa                                    


                                              


                                 Antônio Rodrigues de Souza e Clevane Pessoa





                      Átila Siqueira e Marta Reis Livraria Leitura 11 2011




Há mais fotos no blogue Clevane Pessoa:
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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Asgard, A Saga dos Nove Reinos

Na morada dos deuses



Asgard, A Saga dos Nove Reinos. Editora Jambô, 211 página. R$ 35,00

Apesar de distante do Brasil, a mitologia nórdica é conhecida graças a sucessos dos quadrinhos como Thor, heroi da Marvel que recentemente ganhou um filme e o bárbaro Conan, outro personagem da Marvel que terá também ganhará as telonas nesse ano. Clássico também são as tiras cotidianas de Hagar, o Horrível, de Dick Browne, narrando o mundo moderno sob a ótica de um saqueador viking.
Asgard é o reino dos deuses segundo os vikings, um misto de guerreiros, piratas, exploradores e comerciantes que habitaram a região que hoje é composta pela Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia de 1066 até perto da idade média. Sua mitologia e costumes foram difundidos, muitas vezes de forma errada. A cena clássica de um monte de guerreiros barbudos com chapéus cônicos com chifres, velejando em barcos com proa em forma de dragões e saqueando/pilhando tudo que encontrarem pela frente toma conta de nossa imaginação assim que pensamos nesse povo, apesar de estudos mostrarem que os vikings eram bons exploradores pacíficos e não usavam chifres em seus elmos.
Mas distante da realidade de Midgard, como era conhecida a Terra pelos vikings está Asgard, morada dos deuses que com sabedoria ou força governam o destino da humanidade. É essa mitologia nórdica que forma a base de Asgard, a Saga dos Nove Reinos. A concepção de uma antologia, reunindo diversos autores, alguns amadores outros já profissionais, com o propósito de escrever sobre Asgard apareceu em boa hora. Alguns foram mais clássicos narrarando parte das histórias deixadas pelos vikings, outros criaram novas possibilidades de confrontos de um panteão conhecido por sua violência e há aqueles que misturaram com uma era contemporânea ou com outras lendas.
Sóira Celestino e Evandro Guerra organizaram esse volume com bons contos épicos, poesias romantistas e gravuras bem arranjadas entre um texto e outro. Alguns autores não conseguiram captar a essência da proposta, escorregando na narrativa, mas isso á algo comum em qualquer antologia e não tira nenhum mérito da obra.
Uma especial atenção do leitor para Newton Emediato Filho, Alex Mir, Alfer Medeiros, Vinícius S. Reidryk e Márson Alquati. Escritores que conseguiram prender a atenção com seu enredo bem estruturado.
Asgard é boa leitura para quem gosta do tema, sempre bom ler novas histórias sobre antigos personagens. Porém não é tão interessante para quem não tem ideia do que seja a mitologia nórdica ou não goste de alta fantasia.

Pedro Moreno - Na Morada dos Deuses

domingo, 6 de novembro de 2011

O Tempo de Um Livro

                                            
                                                         


    Numa pequena cidade, provavelmente nos fins da década de 50, o trem de passageiros, com atrasos imprevisíveis, teve que ficar parado por algum tempo, naquela distante estação. Os viajantes se acomodaram como puderam dentro dos vagões e outros ficaram pela plataforma a zanzar. A notícia primeira seria que o trem atrasaria algumas horas, porém veio a notícia de que passariam a noite toda ali. Como os vagões não ofereciam comodidades nem conforto, os viajantes saíram para satisfazer emergentes necessidades.
   
    Quem mais aproveitou dessa situação fora a dona do café que no meio da plataforma vendia quitandas, salgados... Ela trazia uma enorme chaleira de café quente, na mão direita, enquanto subia por uma escada perpendicular, que ligava a rua de baixo com o nível ferroviário e dona Alzira com uma agilidade impressionante, deixava qualquer artista circense com inveja. Logo em seguida, vinha sua única filha, dona de um corpo escultural e que atraía os olhares maliciosos dos homens. Anina, na trilha da mãe, trazia um cesto apinhado de pastéis a exalar aromas e fumaças... Dona Alzira pedia à filha que buscasse tudo que podia ser vendido. Ah, lá de dentro ia e vinha Anina!...

– Agora sim, a coisa melhorou muito – alguém dentro do trem de passageiros, com a cabeça fora da janela, dizia com brilho no olhar.

Enquanto isso, a cantina improvisada no meio da estação logo enchia de gente... Um daqueles passageiros, com trajes excêntricos, usava terno com gravata borboleta e com ar circunspecto, saboreava a xícara de café e pronunciava com reverência:

– Maravilha de sabor. Por gentileza, mais um bolinho de chuva!...
    
    Os bares rústicos se transformaram em restaurantes e ficavam  lotados. Bêbados em um bar de esquina brigaram e xingaram palavrões. Os passageiros de segunda classe, aproveitando a ocasião, se infiltraram nas algazarras, pois com esses divertimentos o tempo logo passava. Um homem, com ar de europeu saía do hotel, ansioso e caminhava pela cidade. Circulava, observava e registrava em sua mente trejeitos e paisagens humanas. Os ouvidos dele funcionavam tal como orelhas de um coelho assustado a perscrutar o eventual risco de vida e seu olfato era semelhante ao das abelhas em busca de néctar...

    O cenário era de frio e desolação. Tal senhor desejava enxergar o impalpável, o que pudesse. E procurava ao redor uma companhia, amigo que seja. Queria alguém que dissesse qualquer palavra... O que faz um homem a acreditar em algo impossível e, mesmo diante do deserto, acreditar nas miragens que são as imagens vindas de uma vereda longínqua – imaginava o nobre homem. Pudesse carregava no seu âmago o sertão... Com olhos penetrantes trazia numa das mãos dois volumes de Corpo de Baile e ainda passara horas a caminhar pela cidade, e embora já exausto, não se resignou ao perceber a vacuidade humana.
   
    Pela manhã saía do único hotel que ali havia e que não acomodava a todos. Prosseguia vicejante até que se aproximou de um provável vaqueiro e o saudou:  bom-dia...
Como não obteve êxito para um bom início de conversa, logo adiantou a abordagem:

– Bom dia, amigo! Aceite um presente cordial, de bom agrado! – Disse numa tentativa de presenteá-lo com aqueles dois livros.  
A perplexidade do sertanejo lhe trouxe um incômodo ainda maior.
– É apenas um presente!... – Completou o senhor.

– Eu não quero! Eu não aceito... Nunca vou ler um livro desse tamanho! Ainda mais dois!

– Pode aceitar, é apenas um presente...

– Mas por que eu? Eu não conheço sua pessoa – e encarava pela primeira vez, aquele homem de rosto radiante, sem entender tamanha ousadia, assim do nada.
   
    O viajante, por fim, depois de muito insistir, conseguiu seu objetivo de deixar naquele fim de mundo, dois livros de sua autoria que teve traduções em diversas línguas. O homem fino e atilado, perfilando-se em seu sorriso fechado, agora de mãos livres, caminhava rumo à estação erma daquele território das Gerais. Prosseguiria viagem à capital do Brasil e de lá voaria até o velho continente com o qual ele também tanto se encantava.